Interview: Nathalia Levy, Editora Online da ELLE Brasil

Conheci a Nathalia na Mya Haas, marca de sapatos da querida Cris Fukada, que foi minha cliente quando ainda trabalhava no mundo do ecommerce da moda. Nath era espevitada nas ideias e excelente executora. Aquele tipo de menina que a gente percebe que vai longe. Fiquei muito feliz quando a Cris me ligou, toda orgulhosa, para contar que ela tinha ido para a ELLE. Acho que a Cris sempre soube que o fit ideal para a Nath era em uma revista de moda, ela parece ter sido moldada para isso. Curiosa, ativa, questionadora, com personalidade forte e querida!

Q. Qual foi o seu primeiro emprego?

Meu primeiro emprego foi em um agência de turismo, acho que aos 17 anos. Era um estágio para cuidar das redes sociais e do blog da agência. Lá eu escrevia de forma muito detalhada sobre roteiros e viagens luxuosas que eu não tinha menor ideia de como realmente eram. Antes disso, o mais próximo de uma experiência profissional que eu tive foi em um cursinho comunitário no Rio de Janeiro, onde eu ajudava o professor de redação nas aulas e também corrigia alguns textos.

Q. Você trabalhou um bom tempo como braço direito da Cris Fukada, na Mya Haas. Como era seu trabalho na marca?

Entrei para cuidar das redes sociais também, e acabei saindo de lá fazendo um pouquinho de tudo. Eu aprendi sobre varejo, compras, comunicação, marketing, eventos e até a fazer fotos still, foi um complemento inesperado mas incrível durante a faculdade de jornalismo. Existe um lado bom de trabalhar em uma equipe pequena que é desenvolver habilidades que você não sabia que existiam. 

 Nathalia Levy na ELLE

Q. Agora você está na Revista Elle cobrindo moda e beleza, congratulations! Como foi o processo seletivo?

Foi um processo seletivo bem comum de estágio. Fiquei sabendo da vaga pelos e-mails da faculdade, enviei meu currículo e um textinho de apresentação, aí fui entrevistada pela editora e eles me pediram um texto sobre moda. Lembro de ter colocado toda a minha (pouca) habilidade no indesign pra jogo, e enviei o texto diagramado com fotos. Acho que isso deve ter contado alguns pontos.

Q. Teve comemoração quando você conseguiu entrar para o time da revista?

Eu acho que não, nunca tinha pensado nisso. Foi um momento de mistura de sentimentos, na verdade. Na época, a editora me enviou um e-mail falando algo do tipo: "Gostamos muito do seu texto, vamos nessa?". E eu não tinha entendido muito bem que aquilo era um sim. Acho que no fundo eu não acreditava que tinha conseguido porque aquela frase do Diabo Veste Prada ficava ressoando na minha cabeça "Quantas milhões de garotas matariam por esse trabalho" -- sempre acho que esse filme acabou criando uma geração de pessoas deslumbradas e assustadas com a moda (apesar de amar, hahah). Depois de entender foi a hora de me despedir do trabalho antigo que eu gostava muito, então acho que eu nunca comemorei, de fato. Eu fiquei meio em choque. Quem sabe eu faça uma comemoração tardia eventualmente.

Q. Você sempre quis trabalhar em uma revista de moda?

Sempre! Tive um período de negação à moda quando entrei na faculdade. Meu primeiro ano foi no Rio de Janeiro e tinha muita coisa nova acontecendo, principalmente por estar em uma faculdade pública, e aí acabei me afastando. Mas isso durou um ano, voltei para São Paulo e a moda voltou junto.

Q. Como você se preparou profissionalmente para o seu dream job? 

Logo que voltei para São Paulo tinha muito tempo livre porque comecei a faculdade de novo, mas pude eliminar algumas matérias. Então nos dias em que não tinha nenhuma aula fiz cursos de jornalismo de moda, fotografia, mandava textos de graça para alguns sites, etc. Um pouco antes de surgir o estágio na ELLE também consegui um frila em uma assessoria de imprensa durante o SPFW, cuidando dos jornalistas internacionais que vinham para o evento. Mas acho que o principal foi nunca ter deixado de acompanhar a moda, o que não era nenhum esforço, né? Minha página inicial era o style.com (rip).

Q. Que look você usou no dia da entrevista?

Eu usei uma calça jeans skinny clara, uma camiseta cinza, um blazer preto e um oxford preto. Isso faz quatro anos, e tirando o jeans skinny que anda dando um tempo na minha vida, são peças que eu uso o tempo todo ainda.

Q. Como é o seu dia a dia na redação?

Basicamente sentada na frente do meu computador respondendo e-mails, editando textos, conversando com as pessoas que trabalham do meu lado e tendo 89174893429 ideias loucas (mas depois caindo na real e ficando frustrada ao perceber que só dá para executar 1% delas).

Q. Antes você via todo o processo de criação, desenvolvimento e ciclo de vida do produto. Em uma mídia você é impactada pelos produtos, mas sem envolvimento no processo criativo. Qual é o maior desafio na hora de falar sobre produtos que você não se envolveu na criação?

Acho que tentar entender, em pouco tempo e às vezes com poucas informações, por que é relevante falar daquele produto neste veículo específico. A gente recebe muitos e-mails de lançamentos e temos que ter um filtro. A marca pode criar todo um conceito por trás de um produto, mas às vezes ele simplesmente não encaixa com a linha editorial da publicação. Escolher falar de alguma coisa envolve muitos fatores, às vezes é uma marca que sabemos que é muito querida pelas nossas leitoras, outras é um estilista que está fazendo um trabalho inovador e quebrando estereótipos. Ou também pode ser alguém novo muito criativo que trabalha de forma ética, e aí achamos que é importante usar nosso espaço para mostrá-lo para as nossas leitoras. Há muitas variáveis.

Q. Nas nossas reuniões na Mya Haas, a gente falava sobre família, papéis da mulher e do homem, etc e você sempre teve uma postura muito clara e feminista com relação a todos esses estereótipos. A Elle foi pioneira na abordagem do empoderamento feminino nos veículos de moda do Brasil. Você sente que se encontrou? 

Foi um encontro duplo. A ELLE mudou bastante também nos últimos anos, e isso é um reflexo das pessoas que estão lá dentro. As mulheres que trabalham lá são jornalistas, criadores de imagens, designers e também são feministas. Pela natureza das profissões, nós temos que ficar atentas ao mundo ao nosso redor, então um veículo que fala com as mulheres, com tantas mulheres juntas na redação, não teria como ficar inerte em um momento de tanta luta e explosão criativa feminina. Eu sinto que cresço junto com a revista, com as oportunidades que eu tenho de entrevistar pessoas, com a abertura de fazer pautas que mexem comigo, tá tudo muito junto. 

Q. Mas mesmo sendo pioneira, feminismo e girlpower ainda são pautas que precisam ser muito exploradas e esgotadas, até outras todas as gerações entenderem o real conceito de feminismo - aqui no Lolla sustentamos essa definição "homens não são superiores às mulheres e mulheres devem ter os mesmo direitos que os homens" simples assim. Você ainda sente alguma resistência no meio ou é aquela coisa velada, se alguém não é feminista, finge que é para não pegar mal?

Acho que quem fala que é feminista é porque teve contato com alguma luta feminista com a qual conseguiu se identificar, mas ela pode acabar resistindo a outras pelas quais não passou, e começar a questionar o feminismo. Aí tem que entrar a empatia e o estudo. Mas no fim acredito que é um caminho sem volta, uma vez que você desperta para as opressões, entra em contato com outras mulheres, você se fortalece e busca mais conhecimento.

Q. Recentemente você assinou a matéria da capa da edição de Abril da Elle. Como foi esse momento? E entrevistar a Liya Kebede, modelo, empresária and ativista?

Foi incrível, inesquecível. Estava em Nova York para uma outra matéria e acabou casando com o dia da foto da Liya e pude entrevistá-la. Obviamente fiquei nervosa, levei minhas perguntas no celular e em dois cadernos, e no fim deu tudo certo. Ela é uma mulher linda, tem um olhar doce e isso deixa as pessoas ao redor confortáveis. 

Q. Fazendo uma dobradinha com uma pergunta que fez à Liya. Você trabalha na indústria que dita os padrões. Você acredita que a moda vai realmente chegar em um plateau, em relação aos padrões? 

Acredito que a moda ainda vai ser muito questionada e vai passar a representar mais pessoas, sim. Mas o fim dos padrões é algo difícil de se imaginar dentro de uma sociedade do consumo, que é baseada em criar modelos inalcançáveis para que as pessoas continuem se movendo, produzindo e gastando ao tentar e nunca conseguir chegar até ele. Mas eu sou muito otimista e enxergo uma mudança nisso também, vejo essa associação do "ter = ser" sendo diluída aos poucos, e nesse contexto acredito que eventualmente migraremos para marcas menores, mais representativas e imagens de moda que servem como inspiração para todos. Pra mim, a essência da moda também é criar um ambiente de escapismo e acolhimento, com imagens que fazem a gente sonhar. Por muito tempo esse sonho só era feito para moças brancas, magras e altas. Com a internet, todas as outras puderam fazer pressão sobre isso e até criar suas próprias referências, então o jogo está virando. Finalmente.

Q. E como você faz nos dias que não está se amando? Algum truque para dar aquele boost na autoestima? 

Eu curto fazer as coisas que sempre ficam de lado na rotina. Tipo parar no fim de semana pra fingir que sei fazer yoga, ler as revista e livros que eu fico carregando a semana toda na bolsa e nunca leio, fazer uma looonga sessão de skincare, essas coisas. Mas isso só rola no fim de semana, né. Quando eu não me amo durante a semana eu costumo só pensar muito da onde isso pode estar vindo. É uma coisa estranha, você acaba viajando, mas de repente você começa a colocar tudo em perspectiva e volta mais confusa, mas ao mesmo tempo mais leve desses pensamentos. 

Q. Outro dia falamos sobre a Glossier. Confesso que comprei meus primeiros produtos porque queria fazer parte daquele movimento de alguma forma, mas sem acreditar muito na eficácia. Acha que esse frenesi com a marca é sustentável no longo prazo? 

Eu não consigo muito pensar no futuro deles, mas no momento também sou apaixonada pela estética e pela "comunidade" que eles criaram. Acho que eles são bem espertos, têm um atendimento ao consumidor e marketing muito bons, mas pode ser que essa coisa rosa millennial canse uma hora também. Eu gostaria que eles não criassem muitos produtos novos porque acho que marcas com poucos e bons itens são mais legais, mas isso é um desejo de fã hehe.

Q. Quem te inspira? 

Rihanna

Q. Quem você ama seguir no Instagram? 

Ando num momento de divórcio das redes sociais, mas se for mesmo pra eleger alguém seria a Leandra Medine, do Man Repeller, com certeza. Principalmente quando ela posta stories das filhas gêmeas porque é engraçado demais.

Q. Você acabou de voltar de duas viagens, para NY e LA. O que você mais ama das duas cidades? 

Eu fui este ano para as duas cidades pela primeira vez, então não tenho muita ideia, mas o que me encantou foi a quantidade de shows que é possível ver em uma semana em qualquer uma delas. É impressionante. Não sei como me manteria financeiramente se morasse lá.

Q. Como você se vê daqui a 10 anos? 

Tendo 89174893429 ideias loucas (mas depois caindo na real e ficando frustrada ao perceber que só dá para executar 1% delas).

 

 

 

 

Rosa Zaborowsky

Editor & Founder of thelolla.com and Mom of 3

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