Quanto Pesa sua Bagagem? Sobre Voltar de Viagem e se Encaixar

Já viajei em companhias que o peso máximo de uma mala era 32kg ao invés de 23kg, como é atualmente na maioria. Já viajei em companhias que o máximo que poderia levar era uma mala de mão, e com isso aprendi a viajar leve, seja com uma bolsa ou uma mochila.

Toda vez que penso em bagagens, lembro de imagens que me marcaram em aeroportos: da mais simples como uma família no aeroporto de Roma com 11 pequenos volumes ao invés de malas tradicionais à mais marcante: quando vi mulheres trocando burcas por jeans num banheiro em Dubai, colocando as vestes em suas malas e saindo correndo.

Não apenas em aeroportos, mas também lembro de histórias em hotéis, como na China quando amiga precisou dividir seus pertences com outros porque não teve como comportar tudo em suas malas, ou de uma conversa num elevador em Nova York com um homem se gabando porque estava voltando com 7 malas cheias de compras.

Enfim, desde que retornei ao Brasil me peguei pensando sobre isso. Em meu último check in estava apreensiva com o peso das malas, confesso meu coração acelerou ao ver os números na balança mas parecia que aqueles números refletiam muito mais o peso de experiências do que o das roupas de inverno pesadas que trazia comigo.

Enquanto eu empacotava - literalmente - as minhas coisas, meu amigo me falou algo que me deixou reflexiva: “Não adianta usar saquinho á vácuo. Não é sobre o volume que vc tem que se preocupar, é sobre o peso”. Oras, que coisa simples não? Todos sabemos disso, no entanto, o que me deixou pensativa foi algo simples: a mala que vai nunca é a mesma que volta, já reparou nisso?

Por mais que façamos uma mala perfeita, no melhor estilo Marie Kondo, a mala que vai nunca voltará a mesma. As roupas voltam com novas formas, novos aromas, usadas, desgastadas ou simplesmente dobradas de uma forma diferente. O mesmo acontece conosco… Não voltamos os mesmos de uma viagem. E, ao contrário das malas, não podemos nos desfazer de mudanças. O volume da experiência existe… e ele tem um peso.

E veja, não importa a duração da viagem, qualquer viagem carrega em si o poder transformador da experiência, pois mesmo temporária é capaz de marcar permanentemente o ser humano que se permitiu vivenciá-la. Há pouco tempo conheci a Psicologia Cultural, que se dedica a ajudar pessoas a se adaptar a uma nova cultura, mas também conheci a Síndrome do Retorno, quando você retorna para sua vida antiga após uma longa viagem e encontra dificuldade em se adaptar ao “seu passado”, e isso é muito mais difícil do que se abrir para uma nova cultura. Acredito que viajar e conhecer o mundo possa ser a experiência mais complexa vivenciada pelo ser humano, e também a mais bonita. É sobre desbravar o desconhecido mas também se conhecer. A pessoa quando viaja volta cheia de histórias para contar, disposta a dividir tudo que viu e conheceu.

Que a gente saiba contar as historias e administrar toda essa bagagem.

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